Entre os filmes que marcaram minha adolescência e juventude, The Dreamers (Os sonhadores, 2003) de Bernardo Bertolucci está na minha trilogia de favoritos, juntamente com Deixa ela entrar e O leitor. O filme conta a trajetória dos gêmios Théo e Isabelle e a forte relação estabelecida entre eles e o estudante estadunidense Matthew. Tudo ocorre após a cinemateca parisiense que frequentavam ser fechada. Com os pais ausentes, os irmãos e seu novo amigo trancam-se dentro de casa e, enquanto participam de um caprichoso jogo cinéfilo e sexual, permanecem completamente indiferentes a toda a agitação social que se produzia na França de 1968. Acordados com uma pedra que invade o grande apartamento, os jovens finalmente saem pra a rua e descobrem assustados tudo que estava ocorrendo. No filme, vemos ao final o casal de gêmios se separando de Matthew em meio à confusão, pois o jovem estrangeiro não deseja participar dos atos de violência.
Esse enredo cinematográfico de The Dreamers é baseado na obra homônima de Gilbert Adair, sendo que ele recria com uma beleza surpreendente a história escrita pelo autor britânico. Talvez a grande diferença entre o filme e o livro seja justamente o destino do personagem Matthew. No filme, como dissemos, ele se separa de Théo e Isabelle em meio aos confrontos contra a polícia. Porém, no livro, há toda uma exploração maior dessa saída dos jovens para a rua, culminando com a morte de Matthew em meio a sua tentativa de libertar os irmãos da repressão policial. Vejamos, numa tradução espanhola, o trecho do romance que narra justamente isso:
“Se oyó un disparo.
Todavía con la bandera en alto, Matthew se convirtió en su propia estatua.
A más distancia de la barricada, un policía miró con incredulidad su metralleta. Se la apartó del cuerpo lo más que pudo u sólo entonces pareció darse cuenta de que estaba cargada. Se arrancó la máscara antigás. A pesar de la máscara tenía lágrimas en los ojos.
-¡No era mi intención! -exclamó-. ¡No quería hacerlo!
Matthew le dio la espalda y cayó hacia delante como un trapo.
Después de librarse de sus captores, a quienes la detonación parecía haber hechizado, Théo e Isabelle corrieron a donde Matthew estaba tumbado, se arrodillaron cada uno a un lado y le sostuvieron la cabeza.
Su amigo abrió la boca. La lengua le colgó fláccida sobre el labio inferior. Estaba salpicada de espuma.
En sus facciones contraídas pudieron leer la terrible verdad de que no sólo se muere solo, sino que, además, se muere vivo.
Matthew intentó hablar.
Pero, incluso en la muerte, recordaría tarde, demasiado tarde, lo que se proponía decir.”
Comentários
Postar um comentário