Ficção autobiográfica sempre existiu. São incontáveis os escritores que se utilizaram de experiências pessoais para elaborar suas histórias. Nos últimos anos, exacerbou-se essa tendência, tendo inclusive ganhado nome próprio: autoficção. O conceito é polêmico, alvo de muitas teorizações. Mas, de modo geral, trata-se do escritor que usa episódios de sua vida para criar uma obra literária. Ainda que tenha variados graus de fidelidade factual, a identidade entre autor, narrador e personagem quase sempre pode ser observada. Dizem que essa ficção sobre si próprio é sintoma do egocentrismo contemporâneo. É uma possibilidade. Porém, tendo a crer que os escritores atuais estão falando mais sobre si porque aparentemente só é possível escrever com profundidade sobre coisas que vivemos de perto. Pessoalmente, penso nisso quando estou envolto nos meus pequenos desejos de escrever. Quando tento escrever algo realmente significativo surge um dilema em forma de pergunta. É possível escrever algo real...
Sempre que aparece um filme novo na praça abordando as complexas relações que se operam dentro do ambiente escolar, me sinto compelido a assisti-lo. Não foi diferente com Das Lehrerzimmer (A Sala dos Professores, 2023), filme alemão dirigido por Ilker Çatak. Trata-se aqui da história de Carla, uma professora de Matemática recém-chegada a uma nova escola. Diante dos roubos frequentes que ocorrem no ambiente, ela decide fazer algo a respeito com o intuito de descobrir os responsáveis. Porém, ao fazer isso, a novata descobre que o problema é bem mais profundo do que se imaginava. Confesso que por vezes, enquanto assistia, fiquei irrequieto e inconformado com as atitudes da jovem professora. De modo geral, ela transparece uma imagem de clareza e afetuosidade. Contudo, para além dessas belas qualidades, pode-se ver que seu principal problema é um idealismo ingênuo, uma crença injustificada na remissão da humanidade. Ressalte-se: não faço parte do grupo que já vaticinou o fracasso da i...