Sempre que aparece um filme novo na praça abordando as complexas relações que se operam dentro do ambiente escolar, me sinto compelido a assisti-lo. Não foi diferente com Das Lehrerzimmer (A Sala dos Professores, 2023), filme alemão dirigido por Ilker Çatak.
Trata-se aqui da história de Carla, uma professora de Matemática recém-chegada a uma nova escola. Diante dos roubos frequentes que ocorrem no ambiente, ela decide fazer algo a respeito com o intuito de descobrir os responsáveis. Porém, ao fazer isso, a novata descobre que o problema é bem mais profundo do que se imaginava.
Confesso que por vezes, enquanto assistia, fiquei irrequieto e inconformado com as atitudes da jovem professora. De modo geral, ela transparece uma imagem de clareza e afetuosidade. Contudo, para além dessas belas qualidades, pode-se ver que seu principal problema é um idealismo ingênuo, uma crença injustificada na remissão da humanidade. Ressalte-se: não faço parte do grupo que já vaticinou o fracasso da instituição escolar, porém também não me sinto nem um pouco tentado a resolver com voluntarismo pessoal seus problemas mais estruturais. É uma luta que você só tem a perder, não há heroísmo possível.
A professora Carla não consegue enxergar isso mesmo tendo todas as evidências disponíveis. Numa sequência frenética, a vemos gravando com o notebook a sala dos professores, a fim de identificar o responsável por constantes roubos que ocorrem na escola. Após verificar o sumiço de alguns tostões do seu casaco, ela procura o melhor lugar para verificar as imagens e desvendar o culpado. É um momento tenso, pois a profissional age como uma Sherlock Holmes em início de carreira. Nisso, mesmo vislumbrando apenas uma parte da camisa do infrator, a personagem insiste em levá-lo as barras da justiça escolar.
Num longo e agônico processo que se desenrola, o telespectador acompanha o ingênuo sonho de justiça da jovem professora desmoronar completamente. A suposta responsável trabalha na escola e insiste em sua inocência. Confrontada com as imagens, ela ameaça processar Carla por gravar o ambiente sem autorização dos colegas. Para além disso, na condição de professora de Matemática, Carla dá aulas na turma onde estuda o filho da suposta ladra, o que cria um ambiente de tensão constante entre os estudantes. Isso é mais do que o suficiente para que o garoto termine agindo com violência e atingindo a própria professora no processo. O melhor não seria transferi-lo? Que nada! Carla se mantêm fiel a crença de que é possível achar uma solução redentora.
Desse modo, conduzida num caminho errático pela direção da escola e sendo alvo de questionamentos até mesmo por parte dos seus próprios colegas, a professora insiste numa luta incessante por justiça, tendo de lidar com abusos e provocações que vem de todos os lados. Ao final, ainda é ingênua o bastante para realizar uma entrevista a ser publicada no jornal da escola. Não dá outra! Os estudantes publicam suas conclusões parciais sem que a humilde professora tenha oportunidade de contestar.
É agora que ela desiste? Que nada! Carla mantém uma determinação genuína de resolver tudo, como se as complexas relações do ambiente escolar fossem um cálculo matemático para o qual sempre há uma resposta. Mas evidentemente não é o caso.
Por isso, o drama alemão que mais parece um thriller se encerra com esse quebra-cabeça ainda em aberto. O idealismo ingênuo da nova professora submerge no realismo complexo do cotidiano escolar. É o caso de não acreditarmos mais em soluções possíveis? Penso que não é preciso ir tão longe. Existe vida entre a ingenuidade e o pessimismo. Trata-se essencialmente de moderar a expectativa, evitar assumir a proa do navio antes de se acomodar e também saber a hora certa de recuar da batalha. Afinal, se toda a energia for usada de uma única vez, é quase certo que não atravessaremos o mar, o que inviabiliza qualquer sonho de vencer a guerra.
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