Escrevi as anotações abaixo enquanto lia pela primeira vez à obra As meninas (1973), de Lygia Fagundes Telles. O resultado é uma espécie de diário de leitura que comenta a primeira das 12 partes que formam o romance.
Curiosa demais essa parte um do romance. O foco narrativo fica alternando entre a primeira e a terceira pessoa. Na maior parte do tempo a narrativa é em primeira pessoa, mas ora é a personagem Lorena (apelido Lena) quem conta a história, outra ora é a personagem Lia (apelido Lião). É preciso um pouco de atenção para perceber essas alternâncias no foco narrativo. Porém, no geral, esse é um recurso muito interessante, pois permite que nós leitores vejamos as personagens sobre diversas perspectivas.
Pelo que entendi as meninas moram em uma pensão dirigida por freiras. Lorena Vaz Leme e Lia de Melo Schultz são bem próximas, apesar de terem personalidades completamente diferentes. Lorena é cristã, cheia de luxos e aparentemente tem uma boa condição financeira fornecida pelos pais. Ela coleciona sinos enviados pelo irmão, curte ouvir Jimi Hendrix e ler poesia, além do que tem lenços de várias cores e belas xícaras para tomar chá. Parece viver no “mundo da lua”, distante das preocupações sociais e focada apenas em M. N., seu par amoroso.
Em contraponto, Lia tem meias desajustadas, pouco dinheiro e muitas faltas no curso de Ciências Sociais. Recentemente, ele rasgou um romance que estava escrevendo, o que parece demonstrar que não acredita muito no poder da ficção. Vive focada nos movimentos de subversão, participando de encontros com intelectuais e formulando estratégias para o enfrentamento da ditadura. Sua preocupação mais recente é com os seus amigos e com o seu namorado. Eles foram presos e, pelo que se sabe, estão sendo torturados.
Tanto Lena como Lião falam muito sobre uma terceira personagem, Ana Clara (apelido Aninha). Estou muito interessando em conhecê-la melhor. Acho que em breve a própria Ana Clara aparecerá narrando uma parte da história. Mas por enquanto, ainda nessa parte um do romance, vi que Lia pediu a Lorena para que ela consiga o carro emprestado com a mãe. Estou achando que Lia pretende usar esse carro em alguma ação subversiva. Não tenho certeza, preciso continuar lendo pra saber.
Enfim, gostaria de encerrar esse comentário transcrevendo dois trechos bem interessantes do romance. Cada um deles é narrado por uma das meninas.
Lorena: “Em verdade vos digo que chegará o dia em que a nudez dos olhos será mais excitante do que a do sexo. Pura convenção achar o sexo obsceno.”
Lia: “Nunca o povo esteve tão longe de nós, não quer nem saber. E se souber ainda fica com raiva, o povo tem medo, ô como o povo tem medo. A burguesia aí toda esplendorosa.”
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