Apresentado na segunda parte da obra Outras modernidades, a carta de Che Guevara intitulada “O socialismo e o homem novo em Cuba” foi enviada para Carlos Quijano. A luta de Ernesto Che Guevara em favor dos oprimidos começou após ele conhecer a pobreza latino-americana durante uma viagem pela região. Posteriormente, Guevara se tornou um dos líderes da Revolução Cubana, promoveu tentativas revolucionárias na África e terminou morto enquanto participava da luta armada como guerrilheiro. Nessa carta, o líder revolucionário argentino busca contestar a tese dos capitalistas segundo a qual o socialismo abole o indivíduo para assegurar a soberania do Estado. Para isso, ele usa como exemplo a revolução realizada por Fidel Castro em Cuba. Trata-se, portanto, de uma reflexão sobre a atuação do socialismo revolucionário e suas formas de aperfeiçoamento.
Inicialmente, Guevara explica que a origem do socialismo está associada a primeira tentativa de Fidel Castro assumir o poder em Cuba. Depois, a luta se desenvolveu em dois ambientes: dentro do povo adormecido e na guerrilha combativa. Já na época heroica, os revolucionários buscavam maior responsabilidade e se arriscavam no cumprimento do seu dever. Não obstante, em todos esses períodos o homem foi um fator fundamental, uma vez que ele se entregou de corpo e alma à causa revolucionária. Na sequência de sua argumentação, Che Guevara elogia o governo de Fidel Castro em Cuba, destacando a capacidade desse líder em interpretar os desejos da população e em trabalhar para consolidar os ganhos da Revolução. Entretanto, Guevara reconhece que em alguns casos a prática revolucionária comete erros, desestimulando a vontade coletiva de mudança. Por isso, o autor defende a correção dos erros e a busca por melhores mecanismos para ouvir o povo. Num contexto revolucionário socialista, propõe o autor, indivíduo, massa e dirigentes precisam estar em constante interação.
Ernesto Che Guevara avança na sua carta apontando os males invisíveis da lógica capitalista e ressaltando a importância do indivíduo na construção do socialismo. Para o autor, o ser humano é uma obra inacabada que precisa passar por um processo contínuo de aperfeiçoamento por meio da educação. Contrariando seus críticos, que consideram a prática comunista massificadora do humano, Guevara afirma que “para construir o comunismo, simultaneamente com a base material, há de se fazer o Homem Novo” (p. 221). Portanto, o indivíduo é um elemento central na cosmovisão revolucionária do líder argentino. No geral, Guevara exorta a consciência do leitor para que ele não aceite o capitalismo e o regime de classes como uma realidade irremediável. A sociedade do homem comunista é possível desde que os revolucionários inspirem a massa popular por meio da sua liderança exemplar e vanguardista.
Se encaminhando para o final, Che Guevara reflete sobre as primeiras tentativas de se institucionalizar a Revolução. Nesse ponto, ele demonstra ter medo de que a formalização separe as lideranças revolucionárias do povo. Portanto, a todo instante o autor evidencia sua preocupação com o indivíduo autônomo e singular, pois o homem completo e livre só é possível no regime socialista. Daí a necessidade de formar um novo homem, uma nova técnica e uma nova forma de arte: “o homem do século XXI é o que devemos criar, ainda que isso seja uma aspiração subjetiva e não sistematizada” (p. 224). Segundo Guevara, o socialismo deve ter como objetivo central educar o povo no sentido da superação do homem do século XIX e XX. Para que isso ocorra, Cuba deve ser vista como a vanguarda da América Latina, isto é, o farol que orienta a revolução na busca por liberdade plena.
Sem querer soar piegas, Guevara conclui afirmando que o revolucionário deve ser guiado pelo amor. Entretanto, isso não pode ser uma abstração. Diariamente, “é preciso lutar para que esse amor pela humanidade viva se transforme em fatos concretos” (p. 225). Essa ação implica reconhecer o caráter internacional da revolução proletária. Portanto, há muito o que fazer, toda a estrutura de liberdade socialista ainda precisa ser construída. Independente desses desafios, Guevara se mostra confiante na ação revolucionária. Para ele, dois entes são muito importantes nessa construção de um mundo novo: a juventude e o partido. Trata-se de educar as massas jovens para que elas assumam a vanguarda partidária do comunismo. Nesse sentido, ao colocar na balança o peso desses dois elementos, o revolucionário argentino conclui afirmando que a vanguarda dos partidos é quem abre as portas, mas “a argila fundamental de nossa obra é a juventude, nela depositamos nossa esperança” (p. 226).
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